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Mensagens de texto aproximam paqueradores e garotas

segunda-feira, 24 de março de 2008

Como milhões de indianos modernos, Chettri é um Casanova do celular. Ele flerta ousadamente usando mensagens de texto, mas não de outras maneiras. As mensagens de texto se tornaram instrumento de paquera em toda parte. Mas os serviços de SMS estão se provando especialmente revolucionários na Índia, onde estão abrindo caminhos secretos para os jovens, e ajudando-as a superar as profundas barreiras ao contato pré-marital entre os sexos.

Na sociedade indiana, bastante reprimida em termos românticos, Ashish Chettri é o que existe de mais próximo de um Don Juan. Ele é um paquerador irreprimível: um conquistador que alega tentar conquistar três mulheres ao mesmo tempo, um loquaz usuário de elogios, um incansável interessado em encontros românticos. E tudo isso usando apenas os polegares, para digitar mensagens de texto via celular.

"O celular se tornou o novo órgão do amor e da luxúria na Índia", disse Suhel Seth, executivo de publicidade que trabalha em Nova Delhi e contribuiu para uma antologia sobre a vida de solteiro na Índia.

A idéia alienígena do amor livre começa a se infiltrar lentamente na Índia. Mas para jovens de classe média como Chettri, que continuam a ter de tomar a iniciativa, o desafio é como seduzir sem dispor das ferramentas com que contam os conquistadores ocidentais.

O paquerador ocidental pode puxar conversa com uma mulher em um bar lotado. Pode sugerir à mulher que eles procurem um lugar mais tranqüilo onde possam "conversar". Pode convidá-la para um encontro em um restaurante. Caso eles se aproximem, não demora que seja possível convida-la para um "drinque" no seu apartamento. Boa sorte ao indiano que tentar esses recursos.

A corte ao estilo ocidental não funciona na Índia por uma série de razões que se empilham de maneira sólida em uma barreira contra o romance. Os jovens indianos, especialmente as moças, são ensinados a não exibir qualquer interesse pelo sexo oposto, não importa quais sejam seus sentimentos a respeito. A proibição se estende a outras formas de comportamento, como por exemplo rir das piadas de um homem.

A maioria dos jovens indianos de classe média vive com seus pais, além disso, o que lhes deixa poucas oportunidades para convites do tipo "um drinque lá em casa". Muitos deles, até perto dos 30 anos, dividem quartos com irmãos ou parentes em apartamentos apertados; até conversar em particular no telefone é difícil. E caso eles decidam namorar em público, os onipresentes tios e tias indianos podem flagrá-los, como parte de sua bem estabelecida missão de espionagem.

O resultado é uma grande dificuldade no relacionamento entre jovens indianos de sexos opostos. Mas agora os celulares estão propiciando maior ousadia aos dedões do que os costumem permitem às línguas. "Não me sinto confortável conversando em pessoa com mulheres", diz Chettri, 24, um jovem baixo e corpulento, cozinheiro em um restaurante em Bombaim.

Por isso, ele toma notas mentalmente sobre mulheres que o atraem e mais tarde consegue seus telefones por intermédio de amigos. Ele aborda cada alvo anonimamente por meio de mensagens de texto, ao longo de diversos dias, sem que elas saibam quem é ele. Em seguida, caso elas demonstrem interesse, Chettri revela sua identidade e aquece ainda mais a provocação telefônica e, em muitos casos, consegue convencer a moça a aceitar um encontro pessoal dentro de um mês.

"Começo escrevendo que as admiro, e depois as convido para um cinema, pergunto o que aconteceu durante o dia, e então começo a provocar", diz. Mas que tipo de provocação? "Eu posso chamá-la de gorda", disse o conquistador. "Elas gostam. É por isso que respondem. Depois é a vez delas de provocar. Com isso, lentamente, consigo um encontro".

Em um episódio recente, ele descobriu uma vizinha bonita e começou a paquerá-la. Chettri enviou uma mensagem anônima dizendo que a achava atraente. Aos poucos, revelou sua identidade. A mulher parecia a. lisonjeada; b., irritada por ele ter mantido o anonimato; e c., interessada em mais flerte.

A centenas de quilômetros da cosmopolita Bombaim, no interior, fica a empoeirada Umred. É uma cidade conservadora de 50 mil habitantes, onde os jovens em geral evitam fumo e bebida, são rigidamente vegetarianos e não se arriscariam a sair em público com alguém do sexo oposto. "Nossos país são severos. Não deixam que vamos a lugar algum", disse Sonali Lanjewar, 19, estudante e considerada a moça mais bonita da cidade.

Nessa sufocante cidadezinha, as mensagens de texto são um caminho clandestino para a liberdade. "Quando você manda uma mensagem de texto, ninguém sabe quem a enviou", ela conta. E por isso os bolsos de Umred agora se movimentam o dia todo com mensagens de texto, a maioria enviadas por rapazes que jamais teriam coragem de dizer a mesma coisa em voz alta. "Eles tentam arranjar namoradas por meio de mensagens de texto", ela disse. "Dizem que gostam de nós, que merecem nos conquistar, que farão qualquer coisa por nós, deixarão suas famílias, dizem que somos bonitas e inteligentes".

Não se sabe que proporção das mensagens de texto enviadas na Índia têm por objetivo o flerte, já que as operadoras não têm o direito legal de lê-las. Mas as operadoras também oferecem fóruns de discussão, cujo conteúdo fiscalizam, e boa parte das conversas se referem a romances, de acordo com Krishna Durbha, executivo da Reliance Móbile, uma das maiores operadoras indianas de telefonia móvel.

"Muita gente papeia pelo sistema de mensagens de texto", ele diz, "e boa parte das mensagens são flertes". A ironia do processo, no entanto, é que assim que o flerte obtém sucesso, as mensagens de texto deixam de ser tão utilizadas.

Chettri se sente mais confortável paquerando ao celular. Mas ele admite que, quando recebe a desejada mensagem "quero me encontrar com você", é hora de poupar os dedões.

Tradução: Paulo Migliacci ME

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