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Câmera de plástico conquista consumidores

quinta-feira, 29 de maio de 2008


No mundo dos bens de consumo, o progresso pode ser avaliado com base em incrementos mensuráveis de avanço na qualidade. Os consumidores contemporâneos exigem melhoras o tempo todo, e se recusam a aceitar um produto que seja apenas bom o bastante quando existem opções melhores no mercado. Assim, obter sucesso no mercado depende de promover avanços na qualidade: produzir um café mais saboroso, computadores mais rápidos, automóveis de rodagem mais macia. E isso é sempre verdade - exceto nos casos em que não é, que foi exatamente o que aconteceu com a Flip Video, uma câmera de vídeo pequena, feita de plástico e com cara de brinquedo."Nossa idéia não era disputar o mercado com base na qualidade", reconhece Simon Fleming-Wood, vice-presidente de marketing da Pure Digital Technologies, fabricante da Flip Video. "Nosso objetivo era conquistar os consumidores que optam pela conveniência". A conveniência, é claro, pode ser uma das mais poderosas forças na cultura norte-americana, e a Pure Digital, uma empresa que até o lançamento da Flip Video tinha presença quase zero no mercado norte-americano de câmeras, vendeu cerca de um milhão de exemplares de seu produto no ano passado.

A batalha tradicional entre os produtores de câmeras de vídeo sempre se travou em termos de qualidade: a imagem mais nítida, a maior contagem de megapixels, a maior oferta de recursos, e assim por diante. Muitas vezes, as avaliações desse tipo de produto parecem envolver como termo de comparação os mais elevados padrões possíveis - os equipamentos capazes de gerar as melhores imagens, que poderiam ser exibidas sem causar vergonha até mesmo em uma tela de cinema.

A Flip decidiu que adotaria um padrão de referência diferenciado. A Pure Digital entrou no mercado em 2002, fabricando uma versão digital das velhas câmeras fotográficas "descartáveis" que eram vendidas em diversos estabelecimentos do varejo norte-americano. As pesquisas da empresa sugeriam que era possível que existisse mercado para um produto semelhante no mercado de imagens em vídeo, e por isso ela criou uma câmera de vídeo descartável. Mas muitos dos consumidores que gostaram da câmera oferecida pela empresa não gostaram muito da idéia de jogá-la fora depois de usar o produto apenas uma vez (e número razoável deles conseguiu desenvolver maneiras de contornar essa limitação).

Assim, quando a primeira versão da Flip Video chegou às lojas, em maio de 2007, as raízes do produto estavam no mercado de câmeras descartáveis e de uso muito simples. Isso significava que a empresa estava muito mais adaptada aos métodos de produção que envolvem o uso de componentes simples, e permitem manter o preço baixo, do que aos sonhos de inovação entretidos pelos maníacos pela imagem digital de primeira qualidade. (Uma Flip Video, capaz de gravar cerca de 30 minutos de imagens, custa US$ 100 (R$ 165); a versão com capacidade para 60 minutos custa US$ 150 (R$ 250); quando a memória lota, o usuário pode transferir os vídeos para o disco rígido de seu computador.)

Fleming-Wood diz que a qualidade precisava ser "boa o bastante", especialmente em situações de gravação de interiores, com pouca iluminação. Essa definição de qualidade é em certa medida subjetiva. O executivo provavelmente está destacando o ponto essencial ao declarar que a qualidade é superior à que a maioria dos usuários espera. A Flip Video tem poucos controles e se parece mais com um radinho de pilha do que com um eletrônico sofisticado como, digamos, o iPod. Quando a temos nas mãos, um dos primeiros pensamentos é: "Isso pode ser bom?"

Para muita gente, a resposta é "bom o bastante", e isso basta; afinal, a maioria dos vídeos são gravados para upload instantâneo ao YouTube, onde são exibidos em uma telinha minúscula, e não para as telas enormes de um cinema. Não surpreende que um dos métodos de promoção adotadas para a Flip Video foi "semeá-la" (que é o jargão dos marqueteiros para "dá-la") junto a milhares de bloqueiros, de acordo com Fleming-Wood, e a ênfase da lista de contemplados eram os blogs voltados a consumidores e mães, bem como os dirigidos a educadores e organizações sem fins lucrativos, em lugar de aos blogs cujo tema é a alta tecnologia.

Um alto grau de conveniência é exatamente o que torna consumível um produto classificado como "bom o bastante". Formatos de compressão digital como o MP3 e a maioria de seus sucessores sempre implicaram em perda de qualidade de som - mas, para maioria dos ouvintes, isso é "bom o bastante", se consideramos que as canções podem ser obtidas instantaneamente (e, muitas vezes, de graça).

Como aponta Fleming-Wood, o setor de fotografia passou por sua versão dessa descoberta décadas atrás, com a ascensão das máquinas de botão único, incapazes de se equiparar à qualidade das câmeras SLR mas muito mais acessíveis. Os adeptos da fotografia (e alguns pais) continuavam a carregar suas sacolas de lentes, mas as câmeras que não requeriam conhecimentos especiais encontraram espaço em milhões de casas e bolsos, e instantâneos são uma forma de fotografia mais comum do que retratos formais de família, com iluminação calculada. A Pure Digital, por isso, posicionou a Flip Video como uma ferramenta para propiciar a versão em vídeo dos instantâneos.

Redação Terra

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